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Mercado de Trabalho: Taxa de Desemprego Cai para 7,1%, Menor Nível em 10 Anos

Publicado em: 26 de maio de 2025 Autor: Equipe FinançasFácil Tempo de leitura: 11 minutos


Dados do IBGE mostram criação de 1,2 milhão de vagas formais nos últimos 12 meses

A taxa de desemprego no Brasil recuou para 7,1% no trimestre encerrado em abril, conforme divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado representa uma queda de 0,4 ponto percentual em relação ao trimestre anterior e de 1,2 ponto percentual na comparação com o mesmo período de 2024. Este é o menor nível de desocupação registrado desde março de 2015, quando o indicador estava em 7,0%.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), o número de pessoas ocupadas chegou a 101,3 milhões, um recorde na série histórica iniciada em 2012. Nos últimos 12 meses, foram criados 1,2 milhão de postos de trabalho com carteira assinada, elevando o total de empregos formais para 38,7 milhões.

"Os números confirmam a tendência consistente de recuperação do mercado de trabalho brasileiro, que vem se fortalecendo desde 2023", afirma Carlos Eduardo Martins, economista-chefe de uma grande instituição financeira. "O que chama atenção não é apenas a queda na taxa de desemprego, mas também a melhoria na qualidade das ocupações, com aumento da formalização."


Setores que mais geraram empregos


Destaques na criação de vagas

A pesquisa do IBGE mostra que a geração de empregos foi disseminada entre diversos setores da economia, com destaque para:

  • Serviços: Responsável por 580 mil novas vagas, impulsionado principalmente por tecnologia da informação, saúde e educação
  • Comércio: Criação de 210 mil postos de trabalho, refletindo a recuperação do consumo interno
  • Indústria: Adição de 185 mil vagas, com destaque para manufatura e transformação
  • Construção civil: Geração de 150 mil empregos, beneficiada pela retomada de obras e lançamentos imobiliários
  • Agronegócio: Criação de 75 mil postos, mesmo com maior mecanização do setor

"O setor de serviços continua sendo o grande motor da geração de empregos no Brasil, especialmente em segmentos de maior valor agregado como tecnologia e saúde", explica Fernanda Guardado, economista especializada em mercado de trabalho. "Isso é um sinal positivo, pois indica uma economia que se moderniza e cria oportunidades em áreas com maior potencial de crescimento salarial."


Perfil das novas contratações

Além da distribuição setorial, a pesquisa revela características importantes sobre o perfil das novas contratações:

  • Escolaridade: 65% das vagas criadas exigem pelo menos ensino médio completo
  • Faixa etária: Maior crescimento entre trabalhadores de 25 a 39 anos (42% das novas vagas)
  • Gênero: Mulheres ocuparam 52% dos novos postos de trabalho
  • Distribuição regional: Sudeste liderou com 45% das vagas, seguido por Nordeste (22%), Sul (18%), Centro-Oeste (9%) e Norte (6%)
  • Modalidade: 82% das novas vagas são presenciais, 12% híbridas e 6% totalmente remotas

"Observamos uma tendência de maior inclusão no mercado de trabalho, com crescimento expressivo da participação feminina e melhor distribuição regional das oportunidades", destaca Roberto Campos, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).


Impacto nos salários e renda


Recuperação do poder de compra

A melhora no mercado de trabalho tem se refletido positivamente nos rendimentos dos trabalhadores:

  • Salário médio: Aumento real (descontada a inflação) de 3,2% nos últimos 12 meses
  • Rendimento mediano: Crescimento de 2,8% acima da inflação no mesmo período
  • Massa salarial: Expansão de 4,5% em termos reais, impulsionando o consumo
  • Desigualdade: Leve redução no índice de Gini dos rendimentos do trabalho (de 0,518 para 0,504)
  • Salário mínimo: Ganho real de 2,7% com a política de valorização retomada em 2023

"A combinação de mais empregos com salários crescendo acima da inflação tem um efeito multiplicador importante na economia", analisa Maria Helena Santana, economista especializada em distribuição de renda. "Isso fortalece o mercado interno, estimula o consumo e cria um ciclo virtuoso de crescimento."


Setores com maiores aumentos salariais

Alguns segmentos se destacaram com reajustes acima da média:

  • Tecnologia da informação: Alta real de 7,5% nos salários médios
  • Saúde: Aumento de 5,3% acima da inflação
  • Logística e transporte: Crescimento real de 4,8%
  • Serviços financeiros: Elevação de 4,2% descontada a inflação
  • Educação privada: Aumento real de 3,9%

"A escassez de profissionais qualificados em áreas como tecnologia e saúde tem pressionado os salários para cima nesses setores", explica Paulo Solmucci, consultor de recursos humanos. "Empresas estão dispostas a pagar mais para atrair e reter talentos em um mercado cada vez mais competitivo."


Perspectivas para os próximos meses


Projeções de especialistas

Consultamos diversos economistas sobre suas expectativas para o mercado de trabalho nos próximos meses:

| Instituição | Projeção taxa de desemprego (dez/2025) | Principais fatores considerados | |-------------|----------------------------------------|---------------------------------| | Banco Alpha | 6,8% | Crescimento econômico sustentado e investimentos em infraestrutura | | XP Investimentos | 7,0% | Moderação no ritmo de contratações no segundo semestre | | BTG Pactual | 6,5% | Expansão do setor de serviços e retomada industrial | | Itaú BBA | 6,9% | Crescimento econômico de 2,8% em 2025 | | Santander | 7,2% | Cautela das empresas com contratações devido a incertezas externas |

"O consenso aponta para a continuidade da trajetória de queda na taxa de desemprego, ainda que em ritmo mais moderado no segundo semestre", resume Fernando Chacon, economista de mercado. "A expectativa é que fechemos o ano com a menor taxa de desocupação em mais de uma década."


Tendências emergentes

Além das projeções quantitativas, especialistas identificam algumas tendências qualitativas para o mercado de trabalho:

  • Automação seletiva: Aceleração da automação em funções repetitivas, com criação de novas posições em áreas analíticas
  • Flexibilidade: Consolidação de modelos híbridos de trabalho, especialmente em setores de serviços
  • Novas competências: Valorização crescente de habilidades digitais, mesmo em setores tradicionais
  • Empreendedorismo: Aumento do empreendedorismo por oportunidade (vs. necessidade)
  • ESG: Crescimento de vagas relacionadas a sustentabilidade e responsabilidade social

"O mercado de trabalho brasileiro está passando por transformações estruturais importantes, com novas formas de contratação e perfis profissionais emergentes", observa Claudia Yoshinaga, professora da FGV. "Adaptabilidade e aprendizado contínuo serão cada vez mais valorizados."


Impactos financeiros para trabalhadores e famílias


Oportunidades no cenário atual

A melhora no mercado de trabalho cria oportunidades financeiras para trabalhadores e famílias:

  • Negociação salarial: Momento favorável para buscar reajustes e promoções
  • Mudança de emprego: Maior facilidade para transições profissionais em busca de melhores condições
  • Qualificação: Retorno mais rápido para investimentos em educação e capacitação
  • Planejamento financeiro: Ambiente propício para organização das finanças pessoais
  • Crédito: Melhores condições de acesso a financiamentos com emprego formal e renda estável

"Com o mercado aquecido, trabalhadores têm mais poder de negociação e podem buscar melhores condições", orienta Denise Campos, educadora financeira. "É um bom momento para investir em qualificação e também para organizar as finanças, aproveitando a maior estabilidade na renda."


Estratégias recomendadas

Especialistas sugerem algumas estratégias financeiras para aproveitar o momento favorável:

  1. Reserva de emergência: Priorizar a construção ou fortalecimento da reserva financeira
  2. Redução de dívidas: Aproveitar a melhora na renda para quitar débitos, especialmente os mais caros
  3. Qualificação contínua: Investir em cursos e certificações para manter-se competitivo
  4. Diversificação de renda: Considerar fontes complementares de rendimento
  5. Investimentos de longo prazo: Iniciar ou aumentar aportes para objetivos futuros

"A melhor estratégia é aproveitar o bom momento para fortalecer sua posição financeira e criar proteções para eventuais períodos menos favoráveis no futuro", recomenda André Bona, planejador financeiro.


Desafios persistentes


Pontos de atenção

Apesar do cenário positivo, alguns desafios importantes permanecem no mercado de trabalho brasileiro:

  • Desigualdade regional: Taxas de desemprego ainda elevadas em algumas regiões, especialmente no Nordeste
  • Informalidade: Cerca de 38% da força de trabalho ainda em ocupações informais
  • Subocupação: 6,2 milhões de pessoas trabalhando menos horas do que gostariam
  • Desalento: 3,8 milhões de brasileiros desistiram de procurar emprego
  • Qualificação: Descompasso entre habilidades disponíveis e demandadas pelo mercado

"Mesmo com a melhora nos indicadores gerais, temos um mercado de trabalho ainda muito heterogêneo, com bolsões de informalidade e precariedade", pondera Ricardo Amorim, economista e comentarista financeiro. "O desafio é fazer com que a recuperação chegue a todos os segmentos da população."


Grupos mais vulneráveis

Alguns grupos ainda enfrentam dificuldades específicas:

  • Jovens: Taxa de desemprego de 16,5% entre 18 e 24 anos, mais que o dobro da média geral
  • Trabalhadores com baixa escolaridade: Desocupação de 12,3% para quem tem apenas ensino fundamental
  • Negros: Taxa de desemprego 40% superior à média nacional
  • Regiões metropolitanas do Nordeste: Índices de desocupação acima de 10%
  • Profissionais acima de 50 anos: Maior dificuldade de recolocação após demissão

"Precisamos de políticas específicas para esses grupos mais vulneráveis, combinando qualificação profissional, incentivos à contratação e combate à discriminação", defende Maurício Godoi, especialista em políticas públicas de emprego.


Impactos na economia e nos investimentos


Efeitos macroeconômicos

A melhora no mercado de trabalho tem implicações importantes para a economia como um todo:

  • Consumo: Fortalecimento do mercado interno com aumento da massa salarial
  • Arrecadação: Crescimento da base tributária com mais empregos formais
  • Crédito: Expansão saudável da demanda por financiamentos
  • Previdência: Melhora na relação contribuintes/beneficiários
  • Confiança: Aumento dos índices de confiança de consumidores e empresários

"Um mercado de trabalho aquecido, desde que não gere pressões inflacionárias excessivas, é extremamente positivo para a economia como um todo", avalia Marcelo Neri, diretor da FGV Social. "Ele cria um círculo virtuoso de mais renda, mais consumo, mais investimentos e mais empregos."


Setores beneficiados

Alguns setores da economia tendem a se beneficiar particularmente do cenário atual:

  • Varejo: Impulso com o aumento da massa salarial e do consumo
  • Construção civil: Demanda aquecida por imóveis com mais pessoas empregadas
  • Educação: Busca por qualificação em um mercado competitivo
  • Serviços financeiros: Expansão de crédito e produtos bancários
  • Tecnologia: Demanda crescente por soluções digitais para empresas e consumidores

"Empresas voltadas para o mercado interno, especialmente as que atendem a classe média emergente, tendem a apresentar resultados positivos nesse cenário", projeta Maria Eduarda Gouvea, analista de investimentos.


Conclusão: um momento favorável, mas com desafios estruturais

A queda na taxa de desemprego para o menor nível em 10 anos representa um marco importante na recuperação econômica brasileira. O aumento do número de pessoas ocupadas, a criação expressiva de vagas formais e o crescimento dos rendimentos acima da inflação configuram um cenário positivo para trabalhadores, empresas e para a economia como um todo.

Para os trabalhadores, o momento é oportuno para buscar melhores condições profissionais, investir em qualificação e fortalecer a saúde financeira. A maior estabilidade no emprego e na renda permite um planejamento financeiro mais consistente, com foco na redução de dívidas, construção de reservas e preparação para objetivos de longo prazo.

Para a economia brasileira, o mercado de trabalho aquecido funciona como um motor importante de crescimento, fortalecendo o consumo interno e criando um ambiente mais favorável para investimentos. A expansão da massa salarial e o aumento da formalização também contribuem para a sustentabilidade fiscal, com impactos positivos na arrecadação e no sistema previdenciário.

No entanto, é importante reconhecer que persistem desafios estruturais significativos. A desigualdade regional, os altos níveis de informalidade em alguns segmentos e as dificuldades específicas enfrentadas por grupos vulneráveis mostram que a recuperação ainda não alcançou todos os brasileiros de forma homogênea.

Além disso, o mercado de trabalho passa por transformações profundas, com automação crescente, novas formas de contratação e demanda por habilidades diferentes. Adaptar-se a esse novo cenário exigirá esforços contínuos de qualificação e flexibilidade tanto de trabalhadores quanto de empresas.

A expectativa dos especialistas é que a tendência de melhora continue nos próximos meses, ainda que possivelmente em ritmo mais moderado. Se confirmada, essa trajetória poderá consolidar um dos períodos mais favoráveis para o mercado de trabalho brasileiro nas últimas décadas, com benefícios amplos para a economia e a sociedade.